😷 Olá! Onde você encontra paz? Numa xícara de café ou olhando pras nuvens? No instante em que a lufada de ar do travesseiro atravessa o quarto ou quando molha as plantas na sacada? É rezando, ouvindo música, bordando toalhinhas de lavabo, tocando piano, varrendo a casa? Todo mundo busca um jeitinho de acalmar o coração, principalmente quando o mundo todo tá com o coração pela boca. Aqui vão algumas ideias, coisinhas que nos ajudam a costurar um dia no outro para formar essa colcha de retalhos chamada vida. Vem com a gente!
Rotina ou Ritual, por Patricia Papp
No dia a dia, o que é rotina e o que é ritual? Essa semana ouvi a terapeuta belga Esther Perel falando sobre como converter a rotina em ritual e repensei vários momentos do meu dia. Percebi, por exemplo, que faço do meu café da manhã um momento especial. Geralmente não tenho muito tempo de manhã, mas naqueles minutinhos em que passo o café, faço questão de aproveitar o cheiro, a temperatura e o sabor. A minha xícara não é instagramável, os grãos de café não foram colhidos por virgens cegas dos Pirineus e eu sou intolerante à lactose (o que limita bastante meu cardápio). Mas a intenção é ótima.
Outra coisa que faço questão, é de arrumar a cama. Odeio chegar no quarto no fim do dia e encontrar os lençóis bagunçados. Fico com a impressão de que alguém esteve ali na minha ausência e precisou sair com pressa. Então, por garantia, arrumo a cama assim que acordo e ajeito travesseiros e almofadas com capricho.
Não sei se a Esther Perel chegou a pensar como fica difícil transformar a vida de home office em algo significativo durante a pandemia, mas eu bem que tentei trazer intenção aos meus dias. Tenho me arrumado para reuniões virtuais, escolho blusas e brincos com cuidado e não deixei de passar perfume (ele ajuda a neutralizar o cheiro do almoço). Outro dia, uma das mulheres que estava na mesma reunião que eu, usava um batom vermelho lindo e senti que talvez minhas maquiagens estejam um pouco opacas. Fiquei imaginando se ela também usa sapatos de salto ou só se arruma da cintura pra cima.
Depois de mais de um ano onde a casa é também sala de aula, restaurante, escritório, cinema e brinquedoteca, minha recomendação é: tenha sempre um vaso de flores frescas, velas perfumadas, uma playlist animada e uma gaveta grande vazia. As flores frescas dão uma sensação de que a casa tem alma e está sendo cuidada, as velas e a playlist mudam a atmosfera depois do trabalho e a gaveta grande serve para você encher com a tralha que vai se espalhando pela sala ao longo do dia.
Mudando de saco pra mala, mas continuando dentro de casa: esta semana estreou o especial INSIDE na Netflix. Um episódio-musical escrito, dirigido, produzido, estrelado e editado pelo comediante Bo Burnham. Tudo feito por ele, na pandemia, dentro de casa. A linguagem é super gen Z, cheio de referências de linguagem do Insta e críticas sociais. Recomendo para adolescentes e pais de adolescentes.
Apegos, por Vicente Frare
Na arrogância dos meus 12 anos, li numa revista de astrologia que capricornianos são caseiros e ri com escárnio! Eu, caseiro? Justo eu, que queria explorar o mundo, navegar os oceanos, escalar mil montanhas? Nada a ver a tal de astrologia tentando me colocar em uma prateleira pré-determinada por constelações e planetas.
Pensava naquilo cada vez que me mudava para um quarto diferente ao longo da minha peripatética carreira em hotelaria e turismo. Bastava a poeira assentar em uma nova cidade e a vida nova virar rotina que o ensejo da grama verde alhures me mandava fechar o barraco aqui e montá-lo acolá. Em cinco minutos arrumava minhas coisas em duas malas e despachava por correios o excesso, geralmente livros, para a casa dos meus pais.
Despistei as estrelas por um bom tempo. Depois li que, a partir de uma certa época, passamos a ter as características do nosso ascendente, no meu caso, aquário. Foi um alívio saber que havia esperança de eu trocar o peso das responsabilidades capricornianas pela leveza do mundo da Lua. O que acabou acontecendo é que fiquei no meio do caminho, entre as raízes e as nuvens, quase bipolar.
Noto que ainda sou capricorniano quando, todas as manhãs, acordo e sigo um mesmo ritual. Escovo os dentes com a pasta azul, tomo um copo d'água com limão e molho as plantas na sacada, para que os raios solares acordem meu cérebro. Em seguida faço alguns alongamentos antes de entrar na cozinha para moer grãos de café, encher a cafeteira italiana e esperar o barulho da água fervendo. E o dia só começa de verdade depois que eu tomo o café fresquinho numa xícara feita a mão que comprei em uma viagem à Austrália. Tem um nome em japonês no fundo dela. Um dia desses a xícara sumiu e meu mundo despencou até eu encontrá-la novamente numa gaveta diferente. Um alívio, visto que a Austrália está fechada até 2022.
Se tivesse que me mudar hoje, levaria a xícara com certeza. Junto com a cafeteira italiana. Tem também a bolinha vermelha de fazer massagem nas costas, a caixinha de som portátil e meus Crocs, que só uso escondido dentro de casa. Daí me lembro que certas coisas ficam escritas nas estrelas, ou como diriam os árabes, maktub!
Apegos ou hábitos? Quais deles te habitam? Escrevi mini-contos com personagens como todos nós, cheios de hábitos estranhos, engraçados e, no fundo, bem normais. Está aqui, no TravelVince.
Minutos de sabedoria, por Fernanda Ávila
Não satisfeita com o presente - e com os métodos disponíveis para a adivinhação do futuro - decidi inventar minha própria mancia: a musicomancia. Trata-se de uma forma simples de adivinhação do futuro por meio da interpretação do trecho de uma música escolhida ao acaso. Não há muita lógica no procedimento. Afinal, mancia não é ciência, nem exata. É só uma suposição por meio de alguma coisa.
Não que eu desdenhe das outras formas de prever o amanhã. Já recorri à cartomancia várias vezes, inclusive. Mas convenhamos, tarô é coisa do passado. O futuro mesmo está no Spotify, meu Oráculo de Delfos contemporâneo, dono de todas as respostas do universo, mestre das manhãs preguiçosas e das noites de insônia. Senhor do destino, deus da procrastinação.
Para a realização do procedimento, não é necessária a contratação de terapeutas holísticos ou visita a locais esotéricos específicos. O uso de substâncias que, por ventura, possam alterar a consciência, é facultativo. Basta um smartphone com 4G ou sinal de Wi-Fi e meia dúzia de perguntas existenciais.
Abaixo, um teste rápido com algumas perguntas escolhidas por mim.
Você pode refazer inventando novos questionamentos e escolhendo suas próprias playlists sempre que quiser.
Oráculo, o que vai acontecer comigo depois que tudo isso acabar?
Resposta: aqui
Meu deus do som, se o paraíso existe, como ele é?
Resposta: aqui
Senhor dos saberes, se a felicidade existe, onde fica?
Resposta: aqui
Mestre de todos os acordes, quem é o representante do mal na Terra?
Resposta: aqui
Agregador dos graves e agudos, quem tu és?
Resposta: aqui
Pai dos desafinados, o que estás fazendo?
Resposta: aqui
Antes de questionar o poder que me foi concedido para disseminar essa nova prática adivinhatória, caro leitor, saiba que só a Wikipédia lista pelo menos 120 mancias diferentes. Rituais bem mais complexos que envolvem a leitura do destino através de cebolas, formato da língua de um ser humano, som do cavalgar de equinos ou o rompimento da casca de um ovo.
Fim.
Obrigado por chegar aqui e até os próximos alumbramentos. Se acha que alguém de quem você gosta vai gostar daqui também, manda lá!
Pati, sou dessas: não piso fora de casa (ou do quarto atualmente) sem arrumar a cama bem caprichada.
Vi, outro dia fui dar uma volta no sol, olhei pra baixo, o horror: saí de Crocs e não tinha reparado.
Fer, o que teria dito este oráculo pra mim ano passado? Any surprises?! rsrs